No soneto II de A Rua dos Cataventos, percebemos a maneira afetiva e carinhosa com que Quintana se refere à cidade pequena.. Ele dialoga com a cidade tranqüila, deixando pistas de que essa é a cidade que não existe mais, que agora é fruto de sua memória. Aqui ainda é a cidade dos lampiões e dos jardins, cidade do sossego. (Anna Faedrich Martins)
II
Dorme, ruazinha... É tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos...
Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...
O vento está dormindo na calçada.
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme ruazinha... não há nada...
Só os meus passos... Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração...
No poema abaixo, do livro “CANÇÕES”, 1946, o poeta refere-se a essa ruazinha desconhecida e perdida como o seu porto seguro; é o local do seu futuro refúgio, “quando tudo estiver perdido”(Idem)
CANÇÃO DA RUAZINHA DESCONHECIDA
Ruazinha que eu conheço apenas
Da esquina onde ela principia...
Ruazinha perdida, perdida...
Ruazinha onde Maria fia...
Ruazinha em que eu penso às vezes
Como quem pensa numa outra vida...
E para onde hei de mudar-me, um dia,
Quando tudo estiver perdido...
Ruazinha da quieta vida...
Tristonha...tristonha...
Ruazinha onde Maria fia
e onde Maria na janela, sonha...
2 comentários:
Bernardo
Muito lindo este seu blog.Perco-me entre as postagens, e volto, e perco-me de novo...
Parabéns.
bjs
Dulce
Olá!!
Eu sou a Anna :)
Encontrei esse blog e me apaixonei!
Muito lindo mesmo, parabéns!
Fico feliz em poder ter contribuído de alguma forma.
Abração.
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