CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

sexta-feira

2013 - ESPERANÇA


 
Mais um ano se encerra. Chegamos novamente ao final do décimo segundo andar. A louca Esperança saltará novamente para reiniciar, tudo de novo, a partir do primeiro andar sua caminhada por mais um ano... renascida...agora e novamente uma menininha. Essa Esperança não desiste? Essa Esperança louca não morre? Sonhos e Esperanças... são os ingredientes da vida. (É preciso dizer-lhes tudo de novo Quintana.)
Bernardo


ESPERANÇA
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
 --- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

 
Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética"

AMAR É MUDAR A ALMA DE CASA

A todos os sentidos da vida, o amor dá uma nova dimensão. "Voar sem asa", essa é a construção poética mais sublime para definir a sensação do amor, que nos é dada por Quintana.
Amar é mudar a alma de casa,
é ter no outro, nosso pensamento.
Amar é ter coração que abrasa,
amar, é ter na vida um acalento.

Amar é ter alegria que extravasa,
amar é sentir-se no firmamento.
"Amar é mudar a alma de casa",
é ter no outro, nosso pensamento.

Amar, é aquilo que embasa,
é ter comprometimento.
Amar é, voar sem asa,
e porque amar é acolhimento,
"amar é mudar a alma de casa"



- Mario Quintana, in "Apontamentos de História Sobrenatural".

quarta-feira

MONOTONIA


É segundo por segundo
Que vai o tempo medindo
Todas as coisas do mundo
Num só tic-tac, em suma,
Há tanta monotonia
Que até a felicidade,
Ah! Como goteira num balde,
Cansa, aborrece, enfastia...
E a própria dor -  quem diria?
A própria dor acostuma.
E vão se revezando, assim,
Dia e noite, sol e bruma...
E isto afinal não cansa?
Já não há gosto e desgosto
Quando é prevista a mudança.
Ai que vida!
Ainda bem que tudo acaba...
Ai que vida tão comprida...
Se não houvesse a morte, Maria,
Eu me matava

quinta-feira

VERSÍCULO INÉDITO DOS GENESIS



E eis que tendo Deus descansado no sétimo dia,
os poetas continuaram a obra da criação.

Caderno H

DETRÁS DE UM MURO SURGE A LUA


 
Um coração que olha mas nada vê, pois é triste e indolente, como uma criança doente. Eis que passou toda vida a embebedar-se de cinzento e roxo, cores fúnebres, tristes... A vida corre sem revelar-se verdadeiramente, (mascarada), acendem-se lampiões, há festa na praça, mas o coração do poeta segue com seu olhar indiferente, tristonho.



Detrás de um muro surge a lua. Em frente
Acendem-se os lampiões. A noite cai.
Na praça a banda toca, de repente,
Um samba histérico... Aflições dançai!

Mas qual! Meu coração triste e indolente
Olha sem ver, de tudo se distrais.
Que pena faz uma criança doente!
Como ele está... Cada passito é um ai...

Vai morrer atacado de si mesmo...
Dos longos poentes que passou a esmo
A embebedar-se de Cinzento e Roxo.

E enquanto a vida corre - ó Mascarada! -
Ele abre, vagamente, sobre o Nada,
O seu olhar sonâmbulo de mocho...

Mario Quintana. A rua dos cataventos

quarta-feira

O VISITANTE NOTURNO






Pousou agora mesmo – precisamente sobre a velha caneta que eu havia erguido um momento à cata de um adjetivo – um insetozinho verde que tem a forma exata de um escudo.

Veio da noite, atraído pela luz da minha janela. Sua gentil visita me compensa não sei de quê.

Fico a examiná-lo em silêncio: nada posso nem sei dizer-lhe.

E assim nos quedamos por um breve instante frementes, incomunicáveis e juntos... Dois universos dentro de um mesmo mundo!

terça-feira

IDEAIS




Os outros meninos, um queria ser médico, outro pirata, outro engenheiro, ou advogado, ou general. Eu queria ser um pajem medieval... Mas isso não é nada. Pois hoje eu queria ser uma coisa mais louca: eu queria ser eu mesmo.
Sapato Furado, 1994
                                                             Foto Agência Estado.

sexta-feira

SOBRE OS POETAS



“Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio que subjugas a quaisquer escapes motorísticos ou declamatórios. Um silêncio... este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês."
Mario Quintana
Foto de Daniel de Andrade Simões e seu Blog "Saitica"