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segunda-feira

DO CADERNO H


O DIABO E A CRIANÇA

Um dia o Diabo viu uma criança fazendo com o dedo um buraco na areia e perguntou-lhe que diabo de coisa estaria fazendo.
- Ué! Não vês? Estou fazendo com o dedo um buraco na areia! – espantou-se a criança.
Pobre Diabo! O seu mal é que ele jamais compreenderá que uma coisa possa ser feita sem segundas intenções.

O NARIZ COLETIVO

Nada mais deprimente do que esses retratos de família em que todos têm o mesmo nariz (será postiço) e onde todas aquelas caras parece que estão pensando: “Mas como somos iguais, como somos animais!”
Não há de ser nada. Há um anonimato ainda mais sutil. E mais grave. Quando folheamos revistas antigas, espanta-nos que todas aquelas pessoas que parecem nas fotografias tivessem a mesma expressão. Vai ver que todos pensavam igual! Era a cara da época. Era a cara de fora. Ninguém tinha a cara de dentro. “Também seremos assim?” – indagas agora na maior frustração. Pergunta supérflua. Devias inquirir: “Serei assim?” E trata, antes, de substituir a tua cara coletiva por uma fisionomia própria. Depois conversaremos.
Há outras conotações, como hoje se diz. Por exemplo: nos Estados totalitários todas as pessoas tema a mesma cara. A grande manada. O rebanho único. E se por acaso aparece um bicho diferente, a solução é simples: caça-se.

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