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segunda-feira

É PRIMAVERA EM LISBOA

Adeus Inverno

Se nós aqui nos alegramos com a chegada do outono, muito mais felizes, decerto, devem ficar nossos irmãos do hemisfério norte com a chegada da primavera. Quintana também declamou a primavera em seus versos. O poema ENCANTAÇÃO DA PRIMAVERA é um texto exemplar no que se refere ao cotidiano, pois vemos que seus pormenores adquirem insólitas caracterizações construindo-se assim um dia a dia encantado. Seus personagens ganham cores e movimentos, como os velhinhos, o guarda de trânsito, as mulheres e a avozinha que revive internamente a sua infância. O enriquecido significado cromático se apresenta no próprio termo PRIMAVERA que “mora no país de agora”, ou seja, esse cotidiano está submerso em cor e lirismo, enumerado por distintas cenas imaginistas que em sua totalidade compõem todo o texto.
Comentário de Paulo Henrique da Silva Santos
Primavera em Portugal-Pintura de Attir de Almeida de Paula


ENCANTAÇÃO DA PRIMAVERA


Brotam brotinhos na tarde feita
Só de suspiros:
O amor é um vírus...
Apenas o general de bronze continua de bronze!
O vento desrespeita todos os sinais de tráfego.
Velhinhos de gravata borboleta
Sobem e descem como autogiros.
O guarda de trânsito virou catavento.
As mulheres são de todas as cores como esses
manequins expostos nas vitrinas,
E onde é que estão, me conta, as tuas esperanças mortas?!
Lá vão elas – tão lindas – vestidas de verde
Como Ofélias levadas pelos rios em fora
Enquanto eu nem me atrevo a olhar para o alto:
repara se não é
O Espírito Santo que vem descendo em lento vôo
E até ele, até Ele, deve estar, assim – todo irisado
Como os olhos das crianças, como as maravilhosas
bolinhas de gude!
Não... Deve ser algum disco voador, apenas...
Ou então, uma dessas boas Irmãs de largas toucas brancas,
As mãos ao peito,
E que no céu deslizam como planadores.
Mas olha: mansamente lá vem atravessando a rua
Um linda avozinha com sua neta pela mão.
(Uma avozinha consigo mesma pela mão!)
Bem...depois disto... não me perguntes nada, nada...
A primavera mora no país de Agora!

Mario Quintana in: Apontamentos de História Sobrenatural

3 comentários:

Jânio Lima disse...

Quintana cantou muito a primavera e so ele o sabia cantar tão bem. A poesia de Quintana inteira e movimenta por palavras suaves como a primavera, por isso a poesia dele nunca fica pesada e sempre aquela poesia apreciavel em qualquer momento. Merece com todo respeito apalusos e vc abraços!!

Débora Salum disse...

Olá!
Grande alegria em participar do seu blog.
Parabéns!!!
Excelente gosto.

Beijos
Salum

Ben-Hur Bernard disse...

Sim, sempre que dá eu retribuo a visita. Obrigado!

Eu comentei no post 'Outono' e gostei tanto da inspiração que tive aqui, que repostei no meu blog. Você deve ter visto.

Abraços