CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

quinta-feira

ARQUITETURA FUNCIONAL

Foto Liane Neves

Casas sem mistério, sem o encanto dos porões e sotãos que fazem o poeta viajar com a  imaginação. As casas novas e funcionais trazem o desencanto da realidade fria e nua. Nelas não cabe o sonho que é o secreto visitante dos poetas.

Não gosto da arquitetura nova
Porque a arquitetura nova não faz casas velhas.
Não gosto das casas novas
Porque as casas novas não têm fantasmas
E, quando digo fantasmas, não quero dizer essas assombrações
         vulgares
Que andam por aí...
É não-sei-quê de mais sutil
Nessas velhas, velhas casas,
Como, em nós, a presença invisível da alma...tu nem sabes
A pena que me dão as crianças de hoje!
Vivem desencantadas como uns órfãos:
As suas casas não tem porões nem sótãos,
São umas pobres casas sem mistério.
Como pode nelas vir morar o sonho?
O sonho é sempre um hospede clandestino e é preciso
(Como bem sabíamos)
Ocultá-lo das visitas
(Que diriam elas, as solenes visitas?)
É preciso ocultá-lo das outras pessoas da casa.
É preciso ocultá-lo dos confessores,
Dos professores,
Até dos Profetas
(Os Profetas estão sempre profetizando outras cousas...)
E as casa novas não tem ao menos aqueles longos,
intermináveis corredores
Que a lua vinha às vezes assombrar!

De: Apontamentos de História Sobrenatural

Centro de Cultura Mario Quintana - um dos principais complexos culturais da cidade de Porto Alegre e do país com salas de teatro, cinema, exposições, bibliotecas, ludoteca, discoteca e cafés. Transformado a partir antigo Hotel Magestic, projetado pelo arquiteto Theodor Wiedersphan, se configurando em 2 edifícios interligados por passarelas sendo o edificio da ala oeste construído entre 1916 e 1918 e a ala leste entre 1926 e 1933, foi até a sua morte casa do principal poeta do estado.(foto Juan Pablo Morino - CLICK NAS FOTOS PARA AMPLIA-LAS

Detalhe da Travessa dos Cataventos, maneira ao qual o poeta se referia a esta passagem, pois reparava que o vento que passava por ela revirava o vestido das moças que por ela passavam.(foto Ricardo André Frantz)

Um comentário:

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, Bernardo, ao meu ver, os mais belos poemas de Quintana falam, justamente, das saudades de quando éramos crianças: da rua, do parque, das moças, das praças, dos namoros... enfim de tudo que vivemos.

Lendo Quintana assistimos ao filme de nossa vida, ainda mais aqui no Portinho onde estão todas as suas e as nossas referências.

Através de Quintana, os que estão longe se sentem mais familiarizados com Porto Alegre. Sua poesia é muito real.

Abraços
Tais luso