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terça-feira

A PORTA GIRATÓRIA DE MARIO QUINTANA


PORTA GIRATÓRIA, 1988 é uma seleção de crônicas – como o próprio autor designou os textos alí reunidos – antes publicados no jornal Correio do Povo, Porto Alegre. [...] Tais crônicas, ligadas ao tempo, expressam perfeitamente a origem do gênero. Na expressão “porta giratória” está inclusa também a noção de movimento, de voltas rápidas, de giros bruscos que apontam a idéia de variedade.
[...] Igualmente alí Quintana utilizara textos antes editados no jornal.
Esse procedimento, característico do autor, identifica sua atuação como poeta e jornalista. Habituado à escrita rápida, captando a poesia diretamente do cotidiano, ele encontra nos fatos mais simples sentidos inusitados. Seu olhar ocupado com o lado humano da realidade, extrai seu lado oculto e que não é percebido pelos demais.
(Trecho do prefácio de "Porta giratória", escrito por Tânia Franco Carvalhal que coordenava a edição das obras completas do poeta, falecida em 2006)



UMBRAL

...mas eis que havia no fundo daquele quase infindável corredor de meu sonho, uma porta com a seguinte placa: BATA SEM ENTRAR. É sempre assim, pensei, o mistério só existe do outro lado das portas. Minto. O mistério está mesmo é do lado de cá. Para que procurar o outro mundo, se o nosso já é tão incompreensível como ele?
Incompreensível mas evidente. Como qualquer milagre. Como qualquer revelação.

A VELHA SURPRESA

Quando, ao café da manhã, lemos a notícia do súbito falecimento de algum amigo ou simples conhecido, ainda sentimos aquele mesmo espanto do homem que primeiro palpou, sem nada compreender, o corpo frio do primeiro morto.
Tanto assim que logo nos escapa uma exclamação estúpida, comovente, legítima:
“Mas como! Ainda anteontem eu conversei com ele...”
Sim, a velha e eterna surpresa...
Porque mesmo depois que nada mais nos espanta neste mundo, resta-nos ainda uma aventura inédita: a morte.
Mario Quintana

Um comentário:

Tais Luso de Carvalho disse...

"Porque mesmo depois que nada mais nos espanta neste mundo, resta-nos ainda uma aventura inédita: a morte".

Nossa, essa reflexão... E até a foto deixa transparecer a inquietude; a que todos temos diante do inevitável.

Tais