CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

segunda-feira

OS GRILOS


Os grilos estão muito presentes nos poemas quintanianos. Os grilos e seu incessante cricrilar.
Os grilos com suas frageis britadeiras,
ou ainda:

E os grilos?
Não estão ouvindo lá fora os grilos?
Sim os grilos...
Os grilos...os grilos...
Os grilos são os poetas mortos.

Ou ainda neste poema


Meu deus, se a gente,
Pudesse
Puxar
Por uma
Perna
Um só
Grilo,
Se desfiariam todas as estrelas!

ou ainda neste pensamento do Caderno H

Toda noite os grilos fritam não sei o quê. A madrugada chega, destampa o panelão: a coisa esfria...

Mas fiquemos com mais este magnífico poema:

OS GRILOS

Os grilos abrem frinchas no silêncio.
Os grilos trincam as vidraças negras da noite.
E o silêncio das vastas solidões noturnas
é uma rede tecida de cricrilos...Mas
impossível que haja tantos grilos no mundo,
pensa o Doutor...Sim, talvez haja um problema do labirinto,
retruco, telepático. Mas eu só acredito no que está nos meus poemas,
doutor... Meus poemas é que são os meus sentidos
e não esses, tão poucos, que se contam pelos dedos
e não passam de um único bicho estropiado de cinco patas,
com que mal pode se locomover.
Chego ao fim da consulta como chego ao fim deste soneto.
Fecha-se a porta do poema e saio para a rua:
- um pobre bicho perdido, perdido, perdido...

Nenhum comentário: