CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

quinta-feira

DO CADERNO H


Na redação Quintana tinha por ofício uma coluna, que ele entregava sempre na hora de fechar o jornal, nunca antes. Apesar de poeta, Mario não podia fugir às regras do jornal, com hora para entregar as provas dos textos. Como entregava tudo sempre na última hora, Mário batizou sua coluna de CADERNO H. Sempre que alguém perguntava sobre o porquê do nome ele explicava que entregava a coluna sempre “na hora agá”.
Vamos explorar alguns trechos de seu Caderno H:

Le penseur de Rodin... coitado... nunca se viu ninguém fazendo tanta
força para pensar!

Cidade grande: dias sem pássaros, noites sem estrelas

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso

O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.

Qual Ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas

E essas que enxugam as lágrimas em nossos poemas com defluxos em lenços... Oh! tenham paciência, velhinhas... A poesia não é uma coisa idiota: a poesia é uma coisa louca!

Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...

Por vezes, quando estou escrevendo este cadernos, tenho um medo idiota de que saiam póstumos. Mas haverá coisa escrita que não seja póstuma? Tudo que sai impresso é epitáfio.

O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face.
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.
[in: Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973]

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