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quinta-feira

O ESPÍRITO MILITAR NO POETA MARIO QUINTANA

Pouco conhecidas e divulgadas são as ligações do poeta Mário Quintana com a vida militar e a influência desta em seu espírito e em sua vida.




Ele era neto do Capitão Médico Cândido Manoel de Oliveira Quintana, herói da Retirada de Laguna, na Guerra do Paraguai, e chefe do Serviço de Saúde da tropa que participou daquela épica operação militar. Ele e o Capitão Médico Dr. Manoel de Aragão Gesteira, ao lado do qual foram depositados seus restos mortais no Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados, na Praia Vermelha, no Rio, foram os dois heróis que resistiram até o fim da Retirada, dos 12 médicos que iniciaram aquela operação militar, imortalizada internacionalmente, em francês, na pena de Alfredo de Taunay.
Terminada a Guerra, o Capitão Manoel Quintana chegou em Alegrete incorporado ao 3º Regimento de Cavalaria, Unidade Militar que, terminada a Guerra do Paraguai, lá permaneceu até 1876 e que, por transformações, fusões e denominações posteriores, aquartelado em Jaguarão, resultou no atual Regimento Osório, de Porto Alegre. O Dr. Quintana passou a residir e a trabalhar na Enfermaria Militar de Alegrete, ali vivendo até falecer, onde deixou sua descendência e, nela, o hoje seu neto famoso Mário Quintana.
Mário Quintana nasceu em 1906, cerca de 18 anos depois do falecimento de seu heróico avô. E muito aprendeu sobre o avô com o seu pai farmacêutico, que também o alfabetizou usando como cartilha o jornal Correio do Povo.
E foi influenciado pelas histórias de seu heróico avô na Retirada da Laguna, na Guerra do Paraguai, e mais as da Revolução de 93 em Alegrete, como a Batalha de Inhanduí e a tomada e incêndio da ponte do Ibirapuitã. Nesta época, dos 13 aos 19 anos, de 1919 ao início de 1924, adolescente, o poeta Mário Quintana cursou, como interno contribuinte, o Colégio Militar de Porto Alegre, no Casarão da Várzea.
Foi no Colégio Militar de Porto Alegre que o poeta iniciou sua carreira literária como colaborador de sua histórica revista Hyloea.
E no Colégio Militar de Porto Alegre ficaram os seguintes registros burocráticos de sua passagem por ali, em sua adolescência, segundo dados fornecidos pelo Museu Casarão da Várzea, através do citado Cel Caminha, professor de História daquele Colégio Militar.
“Em 1º de abril de 1919, satisfeitas as exigências regulamentares Mário Miranda Quintana foi incluído no Colégio Militar de Porto Alegre como aluno interno contribuinte e classificado no 1º ano. Em Dezembro nos exames finais foi aprovado plenamente: Com grau 8 em Francês, grau 7 em Português, grau 6 em Aritmética, e simplesmente com grau 5 em Geografia e Desenho, tudo do primeiro ano. Nos exames práticos foi aprovado plenamente com grau 7 em Ginástica (hoje Educação Física) e simplesmente com grau 4 em Infantaria. Em 1º de abril de 1920, foi transferido da 1ªCompanhia para a 2,ª por conveniência do serviço. Em 20 de abril foi promovido a cabo de Esquadra de Infantaria, para o Batalhão Colegial. Em dezembro , nos exames finais foi reprovado em Desenho e aprovado simplesmente com grau 4 em Português e Aritmética e Geografia . Em 1921 nos exames de 2ª época foi reprovado em Desenho. Em setembro, a pedido de seu pai Celso de Oliveira Quintana foi desligado do Colégio Militar. Em abril de 1922 foi reencluido como aluno interno contribuinte. Em dezembro, nos exames finais foi reprovado em Álgebra e Geografia e aprovado simplesmente com grau 4 em Aritmética e plenamente com grau 7 em Português e com grau 8 em Francês. Em março de 1923 nos exames de 2ª época foi reprovado em Álgebra e aprovado simplesmente com grau 5 em Geografia. Em dezembro, nos exames finais foi reprovado em Álgebra do 3º ano. Em 28 de janeiro de 1924 foi desligado do Colégio Militar de Porto Alegre, conforme pedido de seu correspondente.”
Foram seus contemporâneos de 1919 a 1923 no Colégio Militar dois presidentes da República, Ernesto Geisel e Emílio Garrastazu Médici, e um vice-presidente, Adalberto Pereira dos Santos.
Um pouco antes de ele ingressar no Colégio Militar ali se formaram os futuros presidentes Arthur da Costa e Silva e Humberto de Alencar Castelo Branco. O presidente Eurico Gaspar Dutra estudou um ano no Casarão da Várzea, ao tempo em que ali funcionou a Escola de Guerra
Mário Quintana foi obrigado por motivos de saúde a desligar-se do Colégio Militar em janeiro de 1924. Em 1930 lhe surgiu nova oportunidade de retornar a vida militar. Apresentou-se como voluntário ao 7º Batalhão de Caçadores, atual 7º Batalhão de Infantaria Motorizado - Batalhão Gomes Carneiro, Santa Maria, que se encontrava em Porto Alegre em 3 de outubro de 1930, atendendo ao apelo “O Rio Grande de pé pelo Brasil!”. E seguiu para o Rio de Janeiro, via ferroviária, para apoiar a derrubada do presidente Whashington Luiz e a consolidação da Revolução de 30 na capital federal.
Na capital permaneceu por cerca de 6 meses como soldado da Revolução de 30, retornando em 1931, onde retomou, em Porto Alegre, a sua consagrada carreira de poeta.
Em 1978 ele retornou ao Rio de Janeiro representando a sua família nos atos de translado de seu heróico avô de Alegrete para o Rio de Janeiro onde nascera, e para ser colocado, com pompa e circunstância, no Monumento dos Heróis da Laguna, na Praça General Tibúrcio na Praia Vermelha.
Na ocasião fez entrega às autoridades que organizaram a cerimônia, de toda a documentação militar do avô, conservada com orgulho por sua descendência.
E o poeta acompanhou todo o cerimonial de translado desde Alegrete, passando por Porto Alegre e até o Rio de Janeiro, a bordo de um avião da FAB.



Na foto, da esquerda para a direita, o terceiro é o poeta Mário Quintana, representando a sua família no translado de seu avô, herói da Retirada da Laguna, cuja urna com seus restos mortais estão à frente do Gen Ex José Pinto, presidente da cerimônia e comandante do I Exército, atual comando Militar do Leste e ex presidente do Clube Militar.
E contou-nos o acadêmico General Lyra Tavares que ele recebeu o poeta com imensa satisfação. E que na ocasião sua senhora, filha de Cachoeira do Sul, preparou-se para receber o poeta com um café e um prato de sonhos, tradição gaúcha. E ao passar o prato de sonhos ao poeta ele saiu com esta tirada: - “Muito obrigado minha senhora. Como eu, um poeta, poderia comer sonhos? Seria um sacrilégio?”

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