Apesar da morte prematura, e de só ter publicado em vida uma obra, a coletânea Só, António Nobre influenciou os grandes nomes do modernismo português, Nasceu na cidade do Porto em 1867 e faleceu em 1900 de tuberculose. António Nobre referindo-se ao seu único livro publicado em vida, Só (1892), declara que é o livro mais triste que há em Portugal. Apesar disso, e de ser real o sentimento de tristeza e de exílio que perpassa em toda a sua obra, ela aparece marcada pela memória de uma infância feliz no norte de Portugal. Quintana lhe dedica o poema XI de A Rua dos Cataventos:
POEMA XI
Para Antonio Nobre
Contigo fiz, ainda em menininho,
Todo o meu Curso d’Alma... E desde cedo
Aprendi a sofrer devagarinho,
A guardar meu amor como um segredo...
Nas minhas chagas vinhas por o dedo
E eu era o Triste, o Doido, o Pobrezinho!
Amava, à noite, as Luas de bruxedo,
Chamava o Pôr-do-sol de Meu Padrinho...
Anto querido, esse teu livro “Só”
Encheu de luar a minha infância triste!
E ninguém mais há de ficar tão só:
Sofreste a nossa dor, como Jesus...
E nesta Costa d’África surgiste
Para ajudar-nos a levar a Cruz!...
Mario Quintana in: A Rua dos Cataventos
Também no poema abaixo Quintana fala de sua admiração por Antonio Nobre:
POEMA XXIX
Para o Sebastião
Olha! Eu folheio o nosso Livro Santo...
Lembras-te? O “Só”! Que vida, aquela vida...
Vivíamos os dois na Torre de Anto...
Torre tão alta... em pleno azul erguida!...
O resto, que importava?... E no entretanto
Tu deixaste a leitura interrompida...
E em vão, nos versos que tu lias tanto,
Inda procuro a tua voz perdida...
E continuo a ler, nessa ilusão
De que talvez me estejas escutando...
Porém tu dormes... Que dormir profundo!
E os pobres versos do Anto lá se vão...
Um por um... como folhas...despencando...
Sobre as águas tristonhas do Outro Mundo...
Mario Quintana in A Rua dos Cataventos
Talvez nos ajude a entender a admiração de Quintana por Antonio Nobre
lendo um dos sonetos de SÓ:
E a vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!
Mas a arte, o lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do Além e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha única aflição.
Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva...essa que traz.
Mas uma mão: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar nesse convento
Que há além da morte e que se chama A PAZ!
Antonio Nobre in: SÓ, 1892
Um comentário:
estou à flor da pétala - e quintana me toca...
Postar um comentário