CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

domingo

O MEU POETA MARIO QUINTANA

fotos de Daniel de Andrade Simões*


TAIS LUSO DE CARVALHO*


Revelo que aprendi a gostar de poesia através de Mário Quintana. E como é delicioso ler seus poemas quando estamos tristes e amargas... Por sermos acarinhadas e envoltas por doces palavras, a tristeza vai se dispersando e a alma vai ficando leve...

Quando leio Quintana, sinto um poeta que entendeu a vida de uma maneira única, que falava da solidão, da bondade e da felicidade com a mesma tranqüilidade que falava na sua ‘doce prometida’ – a morte.
Falava com a sabedoria de quem não apenas passou pela vida; mas deixou que a vida passasse, que rolasse e que esperneasse... E seguia ele com suas musas, com seus sonhos e quem sabe com seus devaneios...
E que delícia são seus poemas que falam de tudo, de uma maneira translúcida, com uma deliciosa ironia e um sarcasmo ferino! Mas assim era ele; dava a impressão de que brincava com a vida.
Já andei esbarrando com muitos escritores nos shoppings, em livrarias, na Feira do Livro e nos eventos culturais de Porto Alegre e olhava ali... olhava lá... Via todos, falei com alguns, mas nunca vi o meu poeta. Nunca pude dizer olha ali o Quintana!!
Mas não sei se ao vê-lo não ficaria muda e parada! Sim, porque quem conheceu o poeta – ao menos pela televisão – lembra de sua ironia refinada e surpreendente. Dava seu recado sem tradução, e a gente que se virasse, que aprendesse a captar o espírito da coisa.
Aprendi com ele a ver as belezas de Porto Alegre, suas ruas antigas, suas ladeiras, a beleza do vento numa tarde de outono. Aprendi a amar a nossa gente. Aprendi como é linda a simplicidade. Aprendi que é na simplicidade que conseguimos tocar todas as almas. E ele conseguiu. E como conseguiu!
Quando leio o seu poema O Mapa , lembro que também passei pelas mesmas esquinas esquisitas, talvez as mesmas moças eu vi... E caminhei pelas mesmas ruas que ele caminhou. Também já pensei, se no dia em que eu for poeira ou folha lavada, também farei parte do nada?
Seus poemas consolam. Aprendi que um dia, quando a morte chegar de mansinho e disser: Anda, vem dormir... Talvez eu já esteja preparada.
Levarei a mágoa de nunca ter visto meu poeta de perto, levarei um ciúme de não ter sido uma de suas musas... Quem não gostaria de inspirar o poeta em suas noites de solidão e talvez de agonia, fazendo parte de seus eternos rabiscos?
Mas depois de ter lido muitos de seus poemas até já perdi minha aflição: que eu passarei e todos passarão, é certo: só não se repetirá o que aconteceu no dia em que Deus o levou: fez dele um PASSARINHO!
Poeminha do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
(1978)







*Tais, artista plástica e cronista, escreve em um belíssimo blog sobre os mais variados temas. Admiradora de nosso poeta se propôs a elaborar esta crônica  na semana de aniversário de falecimento de Mario Quintana. Visite seu blog: http://www.taisluso.blogspot.com/
*Daniel de Andrade Simões, fotógrafo, cineasta e escritor, também detentor de um belíssimo e instigante blog onde não só as imagens são um forte mas também a luta dos excluidos, cedeu gentilmente as fotos desta página como várias outras do blog para homenagear o poeta. Visite seu blog: http://www.saitica.blogspot.com/.


2 comentários:

Anônimo disse...

Quintana é um homem q le a nossa alma numa sabedoria q encanta.
Parabéns pela postagem.
Um beijo grannnnnnde.

cha disse...

Adorei seu blog.
Belo trabalho!
http://www.chachatsa.blogspot.com/