CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

terça-feira

QUANDO EU MORRER

Mais um poema da obra A Rua dos Cataventos publicado em 1940. Mais um poema em que Quintana imagina-se morto e se diverte com a idéia de ter toda a eternidade para consertar alguns poemas tortos.


QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer e no frescor da lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!


Quero é ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vão...
Que linda a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da expressão!...


Eu levarei comigo as madrugadas,
Por-de-sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas.


E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios da vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra de seu negro manto.

In: A Rua dos Cataventos

FOTO DANIEL ANDRADE SIMÕES

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