CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

sábado

POEMA DA GARE DE ASTOPOVO

Leon Tostoi - Foto Prokudin-gorsky (1908)


O poema intitulado Poema da Gare de Astapovo, conta numa síntese poeticamente bela e bastante eficiente, ainda que alterada pelo poeta para seus próprios fins, algo que aconteceu de verdade: O conde Liev Nicoláievitch Tolstói (na imagem, em uma foto tirada em 1908 por Prokudin-Gorsky, pioneiro da fotografia em cores), autor de obras máximas da literatura universal como Guerra e paz, Anna Karênina e A morte de Ivan Ilích, realmente fugiu de casa na velhice, em 1910 (só que contava 82 anos, não 80, como diz Quintana). Tentava escapar do que considerava a tirania familiar de sua esposa, que o vinha assediando há muitos anos para que ele transferisse para seu nome os direitos autorais das obras que havia escrito na última fase de sua carreira literária — e que renderiam um bom dinheiro, uma vez que nessa época Tolstói era reconhecidamente o maior escritor vivo de seu país, tido como mestre por seus pares.

O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo,


Contra uma parede nua...
Sentou-se...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!


E então a Morte,
Ao vê-lo tão sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
A Morte chegou na sua locomotiva


(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos os que realizam os velhos sonhos da infância!

MARIO QUINTANA
NARIZ DE VIDRO-ED MODERNA-1984

2 comentários:

Custódia Wolney disse...

Mário Quintana... podemos ler seus poemas mil vezes e a cada leitura nos surpreendemos!

Bernardo, bom dia. Convido você a visitar meu blog, onde estou postando, diariamente, um resumo do capítulo do meu livro "Eu, Kalunga" oferecendo ao leitor uma edição compacta da obra.

Venha fazer comigo esta viagem!

Beijos.

Falcão Peregrino disse...

Olá...,
Muito bom ler Mario Quintana.
Gostei do blog, vou seguir.
Visite o meu, se achar interessante, siga!
Abs!