CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
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segunda-feira

UM POUCO DE MARIO QUINTANA 2


Avesso a distinções, Quintana era, de fato, um ser telúrico, um homem simples e um pândego de escol. Boêmio, nefilibata crônico, alienado compulsório, viajante noturno, querubim peripatético das ruas fatigadas de Porto Alegre, tradutor e jornalista que tinha a preguiça como método de trabalho, era poeta-flanêur, que andava pela cidade menosprezando sempre o menor caminho entre dois pontos. Poeta andarilho, numa quadra, pedia cafezinho ou cachaça. Na rua de cima, fazia apostas na loteria ou no bicho. Noutra esquina, se permitia uma pausa para acender um cigarro e admirar uma palmeira Imperial, soturnamente entrevada num canto de paisagem. O ponto de partida era sempre o hotel — Mário sempre foi um soturno habitante provisório, morando em quartos de hotéis. Do Mário reles e urbano, são incontáveis os seus “causos”.

Extraido do texto "Imitando Passarinhos" de Marcelo Xavier (Revista Rabisco

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