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quarta-feira

NO SILÊNCIO TERRIVEL


No silêncio terrível do Cosmos
Há de ficar uma última lâmpada acesa
Mas tão baça
Tão pobre
Que eu procurarei, às cegas, por entre os papéis revoltos,
Pelo fundo dos armários,
Pelo assoalho, onde estarão fugindo imundas ratazanas,
O pequeno crucifixo de prata
-O pequenino, o milagroso crucifixo de prata que tu me deste um dia
Preso a uma fita preta.
E por ele os meus lábios convulsos chorarão
Viciosos do divino contato da prata fria...
Da prata clara, silenciosa, divinamente fria – morta!
E então a derradeira luz se apagará de todo...

In: Aprendiz de Feiticeiro

Esses versos reafirmam a consciência da solidão do homem, desnorteado com sua vida vazia e sem Deus, nostálgico do contato com o transcendente outrora vivido e da segurança das certezas religiosas perdidas. No poema parece restar somente a angústia diante do fim que é associado agora ao silêncio e à escuridão. Ele se vê a procurar desesperadamente o crucifixo – outrora ganho de alguém – objeto que pode lhe ter trazido conforto e segurança no passado. No momento em que se vê só, sentindo a presença da morte, “envolvido pelo terrível silêncio do Cosmos”, o poeta busca sofregamente o objeto perdido, embora saiba que este será incapaz de preservar-lhe a vida, por ser apenas matéria: “prata clara, divinamente fria – morta!”.

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