Cecília Meirelles poetizou que “a vida só é possível reinventada” reafirmando o poder recriador da poesia. Mario Quintana complementou dizendo “quem ama inventa as coisas a que ama”. Cecília e Mario, conjugando-se parecem estar a nos dizer: “Se nos amamos, reinventamos a nós mesmos!”
QUEM AMA INVENTA
Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria.
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!
Mario Quintana in: A Cor do Invisível
REINVENÇÃO
A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Cecília Meirelles in: Mar absoluto e outros poemas, 1945.
QUEM AMA
Camões escreveu:"Quem ama inventa as penas em que vive." "Quem ama inventa as coisas a que ama," acrescentaria eu se a a tanto me atrevesse.
Mario Quintana in: Da Preguiça como Método de Trabalho
2 comentários:
Olá, Bernardo.
Coisa mais gostosa é essa de relembrar Quintana e Cecília. Vale a pena reinventá-los.
Beijinhos
Olá, Bernardo!
Cecília e Quintana, que encontro perfeito! Dois poetas essenciais e de olhar único.
Abrç!
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