
Poesia, a minha velha amiga...
eu entrego-lhe tudo
a que os outros não dão importância nenhuma...
a saber:
o silêncio dos velhos corredores
uma esquina
uma lua
(porque há muitas, muitas luas...)
o primeiro olhar daquela primeira namorada
que ainda ilumina, ó alma,
como uma tênue luz de lamparina,
a tua câmara de horrores.
E os grilos?
Sim, os grilos...
Os grilos são os poetas mortos.
Entrego-lhe grilos aos milhões, um lápis verde, um retrato
amarelecido, um velho ovo de costura. Os teus pecados, as
reivindicações, as explicações – menos
o dar de ombros e os risos contidos
mas
todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte
as explosões de cólera
o ranger dos dentes
as alegrias agudas até o grito
a dança dos ossos
Pois bem
às vezes
de tudo quanto lhe entrego, a Poesia faz uma coisa que
Parece nada tem a ver com os ingredientes mas que
Tem por isso mesmo um sabor total: ETERNAMENTE
ESSE GOSTO DE NUNCA E DE SEMPRE.
Mario Quintana
Um comentário:
Oi, Bernardo:
Que linda essa poesia quando ele diz:
‘Poesia, a minha velha amiga...
eu entrego-lhe tudo
a que os outros não dão importância nenhuma...’
Fazer versos, para Quintana, é como se conversasse com um amigo. E não só para Quintana; para todos que têm a alma e o espírito mais aberto.
E o grande segredo – que eu todo dia aprendo com suas poesias – é gostar de ler e escrever de uma maneira ‘natural e simples como a água bebida na concha da mão’.
Abraço,
Tais
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