
ESPELHO MÁGICO, de 1951 é o quinto livro publicado por Mario Quintana. Nesse início de década, a poesia brasileira assiste importantes transformações. A chamada “Geração de 45” por exemplo, publica uma coletânia que busca alternativas ao chamado projeto modernista.
É em tal cenário de mudanças que Mario Quintana lança o Espelho Mágico.Mas seu livro não se filia às novidades trazidas pelos poetas do final da década de 40. Em lugar disso Quintana recorre a quadra, forma de poesia conhecida desde a Idade Média. A quadra ou quarteto é forma freqüente em composições populares e mesmo folclóricas, também de largo emprego entre os poetas cultos entre os quais encontra-se o português Fernando Pessoa. Inserindo-se portanto na tradição de poetas cultos que retomam formas poéticas tradicionais ou populares Mario Quintana cria 111 quadras em que aborda temas variados, todos relativos a saberes, conhecimentos e experiências comuns a toda a humanidade.
Nas quadras de O ESPELHO MAGICO, o resgate da capacidade comunicativa não é apenas tema dos versos. Ele é experimentado e demonstrado, uma vez que o Eu lírico dirige-se constantemente ao Outro de maneira mais ou menos explícita.
Das 111 quadras da obra, em um pouco mais de 30 não se percebe essa interlocução. Nas demais ora o eu lírico fala a um tu indefinido ora personifica o destinatário de sua mensagem ou finalmente emprega o pronome nós, colocando-se ao lado de seu interlocutor.
Dirigindo-se a um outro indefinidos, “Da Observação” primeiro poema do livro, apresenta uma recomendação:
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda a frio o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

Entre as quadras que definem o interlocutor com o qual se dá a comunicação, estão “Da Inquieta Esperança” e “Da Pobre Alma” a seguir transcritas:
Bem sabes tu, senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa talvez de um desejo ilusório.
Nunca me dês o céu...quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório...
Como é que hás de poder, ó Alma, devassar
Essas da pura essência invisíveis paragens?
Tu que enfim não és mais do que um ansioso olhar!
Oh pobre Alma adoradora de Imagens...
No caso dos poemas em que o eu lírico está junto com o interlocutor, pode-se citar “Dos Hóspedes”:
Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia...
Em que consiste o diálogo travado, sob diferentes modalidades, nas quadras de “Espelho Mágico”? A variedade de temas e assuntos é grande, estilos, linguagem, arte, bem, mal, beleza, solidão, amor, sofrimentos, morte, vida, conhecimentos, desejos. Contudo, identifica-se por trás de tamanha diversidade, uma intensão de ensinar, comunicar, intercambiar experiências, conforme demonstra o poema “Da Sabedoria Dos Livros”:
Não pense compreender a vida nos autores,
Nenhum disto é capaz.
Mas a medida que vivendo fores,
Melhor os compreenderas...
O quarteto acima condiciona a condição de saber à aquisição de experiências reais. Em “Os Dois Livros” o eu lírico também ensina que o conhecimento teórico é inútil se não estiver acompanhado de vivências e aprendizados concretos:
Não percas nunca, pelo vão saber,
A fonte viva da sabedoria.
Por mais que estudes, que te adiantaria
Se o teu amigo tu não sabes ler?