CADA POEMA É UM FRAGMENTO DO POEMA GERAL QUE QUINTANA VEIO COMPONDO
DURANTE TODA A SUA VIDA

quinta-feira

DETRÁS DE UM MURO SURGE A LUA


 
Um coração que olha mas nada vê, pois é triste e indolente, como uma criança doente. Eis que passou toda vida a embebedar-se de cinzento e roxo, cores fúnebres, tristes... A vida corre sem revelar-se verdadeiramente, (mascarada), acendem-se lampiões, há festa na praça, mas o coração do poeta segue com seu olhar indiferente, tristonho.



Detrás de um muro surge a lua. Em frente
Acendem-se os lampiões. A noite cai.
Na praça a banda toca, de repente,
Um samba histérico... Aflições dançai!

Mas qual! Meu coração triste e indolente
Olha sem ver, de tudo se distrais.
Que pena faz uma criança doente!
Como ele está... Cada passito é um ai...

Vai morrer atacado de si mesmo...
Dos longos poentes que passou a esmo
A embebedar-se de Cinzento e Roxo.

E enquanto a vida corre - ó Mascarada! -
Ele abre, vagamente, sobre o Nada,
O seu olhar sonâmbulo de mocho...

Mario Quintana. A rua dos cataventos

2 comentários:

Dilmar Gomes disse...

Amigo Bernardo, todo o poema do Quintana, aumenta a saudade que sinto da figura ímpar do poeta. Um abração. Tenhas uma boa noite.

Anônimo disse...

Obrigada por sua analise! :)
Maki