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sexta-feira

JAZZ


Deixa subirem os sons agudos, os sons estrídulos do jazz no ar.
Deixa subirem: são repuxos: caem...
Apenas ficaram os arroios correndo sem rumor dentro da noite.
E junto a cada arroio, nos campos ermos,
Um Anjo de Pedra estará postado.

O Anjo de Pedra que está sempre imóvel por detrás de todas as coisas
Em meio aos salões de baile, entre o fragor das batalhas, nos comícios
das praças públicas
E em cujos olhos sem pupilas, brancos e parados,
Nada do mundo se reflete.

In: Aprendiz de feiticeiro


O “Anjo de Pedra” criado pelo poeta é único deus compatível com a visão de mundo do homem moderno: frio, distante, sem poder algum de interferir na realidade. Embora esteja presente em todos os lugares, postado imóvel “por detrás de todas as coisas”, ele não se manifesta e a razão de sua existência também não é expressa no texto. Nada resta, nessa imagem, do poder sobrenatural conferido aos anjos segundo a tradição cristã.
No Anjo de Pedra, “ nada do mundo se reflete” pois o mundo, também é de pedra, frio e impassível. Seus habitantes estão sempre ocupados “em meio aos salões de baile, entre o fragor das batalhas, nos comícios das praças públicas” a vida virou um contínuo transcorrer de atividades coletivas e massificantes, que não deixam espaço para que a sensibilidade e a espiritualidade individuais se desenvolvam.
Análise de Doris Munhoz de Lima

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